Conto: Assim Falava Capitu (Por João Gomes)

Ela era secretária de um escritório de advocacia. Seu turno de trabalho era matutino. A tarde atuava como treinadora numa academia de ginástica e a noite estudava na universidade. Também fazia certas atividades a qual ela denominava ser freelancer

Lili, 19 anos, estava decepcionada com os homens (talvez seria melhor dizer muito, muito decepcionada…). Porém, mesmo assim entrou em um site de relacionamento afim de tentar encontrar uma cara-metade. Preencheu alguns questionários, pelo menos os formulários principais. Nos dias pares ela consultava sua caixa de e-mails com o intuito de verificar as mensagens e os pretendentes selecionados e aqueles que lhe enviavam bilhetes, torpedos, presentes, etc.

A secretária tinha também um blog em que semanalmente postava um de seus micropoemas. O blog se chamava assimfalavacapitu. Em verdade o blog era um mix de diário, mural de avisos, livro, receitas culinárias, panfleto revolucionário pós-feminista. Esta informação Lili omitiu no fichário do site de relacionamento.

Seis de junho, pós-intervalo, gazeteando a aula de Direito Tributário, Lili consulta a caixa de entrada do serviço de E-Mail. O Hotmail apresenta 9 mensagens do TryLove —- o site de relacionamento. Anima-se e começa a leitura das mensagens. Cláudia a convida para ir a lanchonete. Lili nega com a cabeça e pede um suco. O primeiro, loiro, diz ser piloto agrícola, trinta anos, reside numa cidade próxima, adora cães e filmes de Arnold Schwarzenegger. Lili marca com três estrelas. O segundo, mestiço, vinte e dois anos, professor de escola infantil, montanhista e devoto da Virgem Maria. O terceiro, caucasiano, vinte cinco anos, caminhoneiro… O quarto, também caucasiano, fisioterapeuta, vinte e sete anos. Claudia retornou e a cutucou:
–—— Nossa! Mamãe! …Ai que sorriso lindo!
Lili retrucou:
–—– Para porque você tá shippada!
Claudia:
–—- já não….
Risos.
Mas entre as mensagens da caixa eis que Lili encontra uma mensagem sem palavras. Na verdade parecia uma tabela periódica. Ou um aglomerado de números em colunas aleatórias.

Lili, curiosa viu aquilo e pensou que era algum erro do servidor de E-Mail. Tentou contato com o serviço de atendimento ao cidadão afim de esclarecer aquilo. O pessoal do serviço respondeu laconicamente e não esclareceu o fato. Seria aquela mensagem uma brincadeira de algum amigo? Talvez de Claudia, aquela traquinas?

Ao final de semana, e sem ter conseguido um contato útil e proveitoso com os pretendentes listados, Lili resolveu falar com seu primo de segundo grau, Alex; para ver se ele tinha ideia sobre a tabela de aglomerado numérico… A mensagem havia sido enviada por Ed007. Lili, revisava sua matéria para uma avaliação do curso. Afinal, pode ser que seu futuro amor a estava testando…

…Platão esmerou-se em desenvolver o diálogo “A República” onde buscou elucidar a definição de Justiça. Dentre os principais interlocutores estavam Céfalo, Polemarco e Transímaco. Para Céfalo a justiça consiste em falar a verdade e devolver ao outro o que lhe tomou, “Não ludibriar ninguém nem mentir, mesmo involuntariamente, nem ficar a dever, sejam sacrifícios aos deuses, seja dinheiro a um homem, e depois partir para o além sem temer nada_ para isso a posse das riquezas contribui em alto grau.” …sendo assim Platão argumenta quanto a correspondência entre ambas as instâncias (a cidade-estado – pólis, para os gregos – é tomada como uma ampliação do ser humano), e que deve haver uma harmonia entre as diferentes faculdades da alma, como também entre as diferentes classes da cidade, essa ordenação se dá quando tanto o indivíduo quanto o estado elegem seus aspectos racionais como orientador de suas ações. Como consequência dessa harmonia, nasce a saúde na alma e na pólis, a qual se reflete também na justiça, questão inicial posta no livro I do diálogo (Stephanus W. Pighius (1520-1604)). Todavia, justiça é um conceito abstrato que se refere a uma conjuntura ideal de interações sociais em que há equilíbrio, que por si só, deve ser harmônico e imparcial entre as demandas, bens e oportunidades entre as pessoas em certo agrupamento humano. Tal conceito está presente em direito, filosofia e religião… as suas acepções e aplicações variam de acordo com o contexto social e a perspectiva interpretativa, ocorrendo diversas vezes debates e embates entre pensadores e pesquisadores. A justiça pode ser reconhecida por mecanismos automáticos ou intuitivos nas relações sociais, ou por mediação através dos tribunais, através do Poder Judiciário.

Então, no estado nascente, de maneira singular, o primeiro problema para os filósofos e juristas é estabelecer que tipo de coisa (ou prova) é verdadeira ou qual o portador da verdade (em inglês truth-bearer). Depois, há o problema de se explicar o que torna verdadeiro ou falso o portador da verdade. Há teorias robustas que tratam a verdade como uma propriedade. E há teorias deflacionárias, para as quais a verdade é apenas uma ferramenta conveniente da nossa linguagem. Desenvolvimentos da lógica formal trazem alguma luz sobre o modo como nos ocupamos da verdade nas linguagens naturais e em linguagens formais. A verdade é uma interpretação mental da realidade transmitida pelos sentidos, e confirmada por equações matemáticas formando um modelo capaz de prever acontecimentos futuros diante das mesmas coordenadas.

Depois de alguns dias, Alex conseguiu decifrar a tabela periódica de Edu007. Era um “comunicado” em assembly oriundo de um programa elaborado em código de máquina onde as instruções do processador, chamadas de opcodes, são representadas por valores em hexadecimal. O comunicado ___ em código de máquina ___é um arquivo binário. Como tal, Lili não pode visualizar no leitor de texto do servidor de correio eletrônico. Logo, o envio do comunicado só pode ter sido efetuado por web robot.

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