Resenha: 50 anos da Conquista da Lua – First Man (por Sid Castro)

Há meio século, a Apolo 11 pousou na Lua, e pela primeira vez na história um ser humano caminhou pelo solo de outro mundo que não a Terra

O próximo dia 20 de julho de 2019 marcará o cinquentenário da alunissagem do módulo lunar da missão Apollo XI, quando pela primeira vez na história da humanidade, alguém pisou o solo de outro corpo celeste que não a própria Terra. É sintomático que, após esse tempo todo, e ao contrário do que muitos imaginavam, ainda há quem não acredite na proeza tecnológica da NASA. Pior: há até quem acredite que a Terra é plana, nos fazendo retroceder aos tempos de Colombo…

Nesse sentido, também é estranho pensar que apenas em 2018 foi lançado um filme sobre essa que talvez seja a maior jornada do ser humano, desde que abandonou o continente africano e colonizou o planeta: O Primeiro Homem / The First Man, que conta a chegada do primeiro astronauta, o norte-americano Neil Armstrong, à Lua. O filme de Damien Chazelle, Oscar por La-La-Land (o que o capacitou para conseguir financiamento para a produção), focaliza a perspectiva humana da missão que mudou a história. Anteriormente, apenas um filme significativo sobre o projeto Apollo tinha sido produzido, e ainda assim sobre uma missão fracassada, que não chegou à Lua: Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo, de Ron Howard, com Tom Hanks, em 1995. O próprio Tom Hanks também produziu, três anos depois, uma série para a HBO, Da Terra à Lua, contando em forma documental a história do projeto Apollo. Não por acaso, o nome do famoso romance de Júlio Verne, o primeiro com uma abordagem científica de como seria a primeira viagem à Lua. Mas a série documental em 12 episódios foi baseada em sua maior parte no livro A Man on the Moon, do escritor Andrew Chaikin. É óbvio que Hollywood achou a segura missão Apollo XI e o frio astronauta Neil Armstrong, pouco tensos ou atrativos para uma aventura tão épica.

Outros filmes, antes de 1969, também abordaram a jornada ao satélite natural da Terra. O mais famoso (e um dos melhores filmes de todos os tempos), naturalmente foi 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, realizado um ano antes apenas, e que mostrava uma realidade que não se concretizou: o ser humano tem até uma base na Lua. Por outro lado, Lunar (Moon) feito exatamente 40 anos depois da alunissagem, dirigido por Duncan Jones, filho do David Bowie, mostra com realismo um ótimo drama que discute conceitos mais profundos sobre a vida humana num lugar tão distante e solitário. Ainda sob o impacto da viagem em 1969, tivemos Gangster na Lua, produzido pela inglesa Hammer, o primeiro policial/faroeste espacial sobre a colonização lunar. Muito antes, tivemos Destino: Lua / Destination Moon (1950), baseado em obra de um dos papas da ficção científica, Robert Henlein. Ao contrário do realismo desse, no mesmo ano, Rocketship X-M mostrava que o primeiro voo tripulado à Lua seria desviado por uma inesperada chuva de meteoros e acabaria seguindo em direção ao planeta Marte(!), onde descobrem vestígios de uma antiga civilização destruída numa guerra nuclear e poucos sobreviventes bárbaros. Já Os Primeiros Homens na Lua (1964) foi baseado num romance de H. G. Wells, onde astronautas vitorianos encontram uma civilização de insetos selenitas.

Claro que não apenas nos EUA e Inglaterra se viajava à Lua no cinema. Quatro décadas antes da chegada do primeiro homem, uma mulher chegou à Lua em Frau im Mond (A Mulher na Lua, no Brasil) filme alemão de 1929, produção, roteiro e direção de Fritz Lang, o mesmo do clássico Metropolis. O filme é baseado em novela da escritora Thea von Harbou. Mas a primazia da primeira viagem coube à França, no filme de George Meliès, de 1902, Voyage dans le Lune, vagamente baseado em Jules Verne.

Em dezenas de outros filmes, em todo o mundo, de ficção, comédias e fantasias várias, a Lua jamais deixou de fazer parte do imaginário até a viagem real ao mundo da Lua em julho de 1969.

O Primeiro Homem foi baseado na biografia de Neil Armstrong (Ryan Gosling), escrita por James R. Hansen, contando a história do engenheiro e piloto que se tornaria o primeiro homem a pisar na Lua. De várias maneiras, o roteiro optou por tirar o glamour da conquista, enfatizando as dificuldades e sacrifícios que ela acarretou para os astronautas e cientistas envolvidos no projeto. Mesmo assim não foi uma jornada pouco dramática ou fatal. Ao longo de aproximadamente oito anos, de 1961 a 1969, candidatos a astronautas morreram durante os exaustivos testes de preparação para a missão Apollo, sem contar os protestos contra os altos custos durante a mobilização política contra a guerra do Vietnã e luta pelos direitos civis. A isso se soma o contexto da Guerra Fria contra a URSS, que de uma série de vitórias russas contra os americanos, perdeu a corrida final à Lua. Os dramas pessoais do astronauta e de sua mulher, Janet (Claire Foy), representam bem a humanidade de Armstrong, superando sacrifícios individuais e familiares em prol do objetivo maior, a missão espacial, passando ao largo de patriotismos e ideologias. São fantásticas e emocionantes as sequências reproduzindo o passeio na Lua de Neil Armstrong, seguido de Buzz Aldrin (Corey Stoll) e do piloto que não desceu no satélite, Michael Collins (Lukas Haas).

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